Ainda não se sabe exactamente quem os fez, mas os utensílios de caça encontrados pelos arqueólogos no Abrigo do Vale dos Covões, em Poios, Pombal, podem ser a prova que faltava para esclarecer a presença e a possível convivência do homem moderno e do de Neanderthal na Península Ibérica.
Pelo método comparativo, os cientistas concluíram que os artefactos têm mais de 30 mil anos. Este tipo de indústria era identificada com o homem moderno, mas nessa altura este ainda não teria chegado a esta zona da Península. Falta agora juntar a datação feita através do carbono 14, realizada em acelerador de partículas e encomendada ao laboratório francês de Gyf-sur- -Yvette - para confirmar o estudo comparativo.
Os arqueólogos procuram a explicação para a "teoria" de que o Homo sapiens não dizimou os neandertais à sua passagem na migração de África em direcção ao actual espaço europeu. Pelo contrário, crêem que ambos se cruzaram na Península, se misturaram e até se terão reproduzido entre si.
Esta tese foi defendida com maior veemência por alguns estudiosos do homem pré-histórico, como João Zilhão, português, e o norte-americano Erick Trinkaus, a partir da descoberta do menino do Lapedo, em Leiria, em 1998. As características da ossada da criança, com cerca de 25 mil anos, permitiram aos dois arqueólogos afirmar que era fruto do cruzamento dos dois ramos humanos que a arqueologia sempre dissera, até então, que não se tinham encontrado.
Em Pombal, Thierry Aubry, com mais três cientistas (Maria João Neves, Miguel Almeida e Helena Moura) que compõem o núcleo duro de um projecto que estuda a presença humana pré-histórica no Baixo Mondego, descobriram um sítio onde os homens da época se abrigaram, provavelmente numa investida de caça, e onde se mantiveram por uns dias. Em torno dos carvões da madeira havia diversas peças destinadas a atacar os animais para se alimentarem. No espólio retirado do abrigo constam barbelas de sílex, algumas feitas no próprio local a partir de materiais ali extraídos. As remontagens que os arqueólogos realizaram permitem-lhes afirmar isso mesmo. Até encontraram a pedra de onde foram extraídas as pontas. "É como se estivéssemos a ver aquelas pessoas à volta da lareira a fazer as peças", diz Helena Moura. Algumas das barbelas seriam, todavia, oriundas de outros pontos mais a sul, o que leva Thierry Aubry a afirmar que provêm do vale do Tejo.
Homosapiens e Neathertal terão mesmo coexistido? Em Portugal esclarece-se uma ligação polémica.
DN
Este achado não foi fruto do acaso como acontece em nove de cada 10 casos deste tipo de descoberta. Resulta de um trabalho apurado que começou há quase 15 anos.
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. Será que o homosapiens nã...