Bob Geldof, criador do Live Aid, falava num hotel no âmbito de uma conferência sobre Desenvolvimento Sustentável, uma iniciativa do Banco Espírito Santo e do Jornal Expresso.

Geldof fez uma intervenção de cerca de 20 minutos sobre o tema "Fazer a diferença", em que afirmou que as casas mais ricas do mundo estão na Baía de Luanda.

O embaixador angolano em Portugal, Assunção dos Anjos, abandonou o local após as palavras de Geldof e antes do fim de todas as intervenções da conferência e do almoço que se seguiu.

Quando se referia às relações históricas e culturais de Portugal com o continente africano Geldof disse "vocês serão uma voz importante no século XXI", depois fez uma pausa e virou o discurso para Angola.

"Angola é gerida por criminosos", acusou o organizador do Live Aid e Live 8.

"As casas mais ricas do mundo do mundo estão na baía de Luanda, são mais caras do que em Chelsea e Park Lane", apontou, estabelecendo como comparação estes dois bairros luxuosos da capital inglesa.

"Angola tem potencial para ser um dos países mais ricos do mundo", frisou Geldof, considerando que aquele país africano tem, designadamente, potencial para "influenciar as decisões da China".

Relativamente a Portugal, o músico irlandês considerou que o país deve ser um parceiro de Angola devido ao seu passado e acrescentou que tanto Portugal como Espanha e Itália "serão os primeiros a sofrer o impacto de qualquer problema em África".

E Portugal deveria ter especial interesse em promover o "desenvolvimento em África", já que tem "uma economia muito vulnerável, uma economia que depende do clima e está paredes-meias com África", salientou.

Para Bob Geldof, através da capacidade de acção em África, a voz de Portugal pode ser "decisiva na Europa, que por sua vez é ouvida no mundo".

O activista criticou igualmente a postura actual dos países europeus, salientando também aqui o papel de Portugal face às nações africanas, especialmente nos acordos de parceria económica.

"Esta cidade, Lisboa, é a cidade onde se realizou a cimeira UE-África, quando a Europa forçou os países africanos a assinar os acordos de parceria económica", acusou.

"Onde os europeus disseram aos africanos: ou aceitam este acordo ou não comerciamos convosco". “Isto não é sustentável! Isto não é ter uma voz, é estupidez", frisou.

A propósito das relações de Portugal com outros países, Geldof referiu-se também ao Brasil, que caracterizou como "a China da América Latina".

A assistir ao discurso estavam dezenas de pessoas, entre as quais os embaixadores do Reino Unido, da Irlanda, de Marrocos, da Argélia e de Angola.

Com Lusa