Lá fora chove, o frio outonal gélido atinge-me pelas frinchas da janela, tremo de conforto, um conforto frio e cruel. Imagino que algures alguém que talvez no seu passado tenha exercido o parasitarismo burguês esta hoje desconsolado, o vento e a chuva molharam a sua caixa de frigorifico, sinto uma ponta de comoção ao longe, mas rapidamente passa, afinal não devo encarar o futuro de forma desanimada, mas não deixo de desconfiar que os berbigões que me preparo para saborear poderão ser os últimos
Verifico agora que esses moluscos que vivem na lama costeira, com um cérebro pouco mais pequeno que o meu, logo de pequeninos vão construindo a sua casa, não uma casa de paredes polidas como a amêijoa mas uma casa de telha ondulada, mesmo assim um tecto onde se abrigam. E eu no meu parasitismo preparo-me para consumi-los com limão.
Pergunto-me, e eu, onde esta a minha casca, ou até mesmo a minha casa, eu ser humano que tive o azar de nascer em Portugal será que terei de ir à câmara para me darem uma casa e não ma dão porque sou português, não teria melhor sorte ter nascido berbigão
Porque, no dia de amanhã o irei lamentar, no dia de amanhã enrolado dentro das caixas de papelão debaixo de um varandim num escuro subúrbio, ter a minha casa de chapa ondulada na praia, era meio caminho para uma permuta por um T4 em Oeiras ou Carnaxide .
Mas não, vejo o meu futuro numa caixa de papel a contar os pretos para a garrafa de carrascão. Bem devia ter dado ouvidos ao meu avô, pegado numa guitarra e fazer-me à vida, assim era na mesma um inútil mas pelo menos distraia-me e não estava agora aqui a pensar que se fosse homenzinho ia mas é trabalhar.
Mas hoje até é sábado, e trabalhar é só segunda
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