Leandro Silva, padrasto de Joana Cipriano, desaparecida - completam-se quarta-feira três anos - da aldeia da Figueira, em Portimão, continua a acreditar que a menina está viva e que foi vendida ou raptada, e não morta. "Tenho a fotografia da Joana à cabeceira da minha cama e penso nela todos os dias. Continua a viver comigo até que eu morra", disse hoje à agência Lusa Leandro Silva, para quem a "estória continua mal contada". Joana Cipriano, de oito anos, desapareceu da pequena aldeia da Figueira, no concelho de Portimão (Algarve), no dia 12 de Setembro de 2004, cerca das 20:30, depois de ter efectuado compras num café próximo da sua casa a pedido da mãe. Para Leandro Silva, a Polícia Judiciária (PJ) "não investigou tudo, deixando muita coisa por explicar", apontando um possível envolvimento de "uma senhora, muito amiga de Joana, que morava na Figueira e que depois, apressadamente, foi viver para Inglaterra". "Era dona de um supermercado na aldeia, deixou tudo e partiu", disse Leandro Silva, sublinhando que a senhora "gostava muito da Joana e oferecia-lhe muitas coisas". "Não acredito que a Leonor tenha feito mal à menina. Ela gostava muito dela, tal como dos outros filhos", assegurou Leandro Silva, revelando que mantém a "guarda das duas crianças", um menino de cinco anos e uma menina de três. Leandro Silva não descarta a hipótese de o seu cunhado, João Cipriano, estar envolvido no desaparecimento da menina, porque, diz, "ele é capaz de tudo, até de se vender a si próprio". "A menina foi vendida ou raptada", sustenta Leandro Silva. Após vários meses de investigação, a PJ apontou a tese de homicídio, imputando o Ministério Público o crime à progenitora e ao seu irmão. A mãe, Leonor Cipriano, e o tio da pequena Joana, João Cipriano, foram julgados e condenados por um tribunal de júri, respectivamente, a 20 anos e quatro meses e 19 anos e dois meses de prisão, por homicídio qualificado e ocultação de cadáver. Até hoje o corpo não foi encontrado. Alegando que o homicídio ficou por provar, os advogados dos arguidos recorreram da sentença para o Supremo Tribunal de Justiça, que em Março de 2006 fixou as penas em 16 anos por homicídio qualificado e dois anos por ocultação de cadáver, reduzindo a soma a 16 anos e oito meses. No entanto, a decisão dos conselheiros foi complexa, tendo o acórdão dividido os juízes, registando-se três votos a favor e dois contra. A mãe, Leonor Cipriano, cumpre a pena na prisão de Odemira, enquanto o seu irmão, João Cipriano, encontra-se na cadeia de Pinheiro da Cruz. Passados três anos desde o desaparecimento da sua enteada, Leandro Silva acredita vir a conhecer, um dia, a verdade sobre o que realmente se passou e a "encontrar a Joana". Enquanto esteve detida preventivamente, Leonor Cipriano foi inquirida várias vezes pelos inspectores na Directoria de Faro da PJ, tendo numa dessas deslocações (em Outubro de 2004) regressado à cadeia de Odemira com hematomas visíveis no rosto, sobre os quais foi questionada pela própria directora do estabelecimento prisional, tendo afirmado que havia sido espancada. Na sequência desta acusação, foi apresentada queixa ao Ministério Público, que mandou investigar. No entanto, a PJ alegou que Leonor tentara suicidar-se ao alegadamente atirar-se pelas escadas na Directoria em Faro, resultando daí os hematomas. Após a investigação, o Ministério Público decidiu acusar três elementos daquela polícia do crime de tortura, enquanto um quarto agente responderá por omissão de auxílio e o quinto por falsificação de documentos. Um dos acusados é o actual coordenador do Departamento de Investigação Criminal da PJ de Portimão, Gonçalo Amaral. O "caso Joana" foi entretanto tratado em livro, intitulado "A Estrela de Joana", da autoria do ex-inspector da PJ Paulo Pereira Cristóvão, destacado para colaborar na investigação e que quis transcrever para o papel uma experiência que considera marcante. "Este livro é uma homenagem a Joana, para que a sua memória seja perpetuada, mas também a todos os polícias cujo trabalho nem sempre é publicamente reconhecido", resume o autor, que durante um mês integrou a investigação. |